Transtorna
Cia de Dança Palácio das Artes está viajando pelo Brasil com o espetáculo TRANSTORNA.

A Cia de Dança Palácio das Artes, de Belo Horizonte/MG, acabou de passar por São Paulo, no Panorama Sesi de Dança, com o espetáculo Transtorna e continuará a viajar pelo país.

A estréia foi em Belo Horizonte, em novembro do ano passado e, além de São Paulo, os artistas se apresentaram pelo interior de Minas e por Salvador ("Balé Teatro Castro Alves - 25 Anos de Aplausos").

Transtorna borbardeia o público com criativas visões sobre a nossa

modernidade, que muitas vezes nos desnorteia e distancia as pessoas, mas que também tem seus bons momentos.

As cidades e a obra de Ítalo Calvino serviram de inspiração para a concepção das cenas, criadas em sistema colaborativo pelos bailarinos.

A arquitetura, a política, a economia e suas ressonâncias na natureza e na construção social fizeram parte dos estudos que envolveram a produção damontagem. A linguagem corporal dos bailarinos apresenta signos que transmitem com criatividade aspectos da vida urbana. De acordo com o release da montagem, o objetivo é causar reflexão através de desconstruções na relação entre público e artistas, requalificando a dimensão simbólica dos muros, dos vazios urbanos, da supressão do verde e da invisibilidade social, e também a relatividade do tempo, a simultaneidade e a fragmentação, em meio à fragilidade dos corpos.

A união de competentes profissionais é uma das características da Cia, que certamente está entre as melhores do Brasil.

Não sou especialista em dança, mas os bailarinos e a direção e coreografia de Cristina Machado estão em tal harmonia que é difícil despregar o olho do palco.

A trilha, de Daniel Maia, em sua terceira parceria com a Cia (os trabalhos anteriores foram em Coreografia de Cordel e Sonho de Uma Noite de Verão) dá dinamismo às cenas quando é preciso e realça o silêncio em outros momentos. A iluminação de Guilherme Bonfanti complementa com maestria a encenação.

Vídeo e linguagem teatral (suspiros, falas desconexas e cantos contidos) se juntam à trilha sonora e retratam a diversidade urbana.

O cenário coloca os bailarinos em ambientes que realçam o tema da montagem e compreender a representação dos elementos de cena é uma tarefa certamente instigante para o espectador.

O ritmo é lento no começo, remetendo à nossa rotina, mas depois vai ficando deliciosamente alucinante.

Dois momentos merecem destaque, por exemplificarem a magia criativa exposta pela Cia: no início da apresentação, dois atores dançam sobre um compensado vertical e interagem de forma interessante. Outro momento é a presença de diversos caixotes no palco (por entre os quais os bailarinos circulam e correm), que podem representar túmulos, labirintos, prédios, etc.

Alguma dificuldade para o entendimento das cenas pode ocorrer, mas a graça de Transtorna está em fazer o público pensar e não em entregar a ele algo explícito.

Repito uma consideração que fiz sobre coreografia de Cordel, que também é pertinente a Transtorna: não se constituir numa montagem de fácil entendimento é uma qualidade do projeto, na medida em que apresenta ao público a visão de artistas/pesquisadores sobre o nosso país, sobre o nosso povo. Num mundo imediatista como o nosso, produções culturais pautadas pelo estudo e pesquisa merecem respeito.

Quem está acostumado a uma dança mais tradicional precisa se despir de qualquer preconceito para assistir à deliciosa ¨loucura cênica¨ da Cia de Dança. O distanciamento entre palco e platéia (a chamada quarta parede) é quebrado com a movimentação dos atores por todo o teatro e com a interação com o público.

Por mais que o nosso cotidiano seja pautado por milhares de informações, seja nas ruas, através da TV ou até mesmo pela Internet deve ser complicado transformar em linguagem "de dança" as percepções dos bailarinos de nossa realidade, e mais, dar uma certa coesão a essas diferentes percepções do pensar e agir do ser humano. E eles fazem isso muito bem!

Acompanhem a trajetória da Cia de dança PA nos endereços e não deixem de prestigiar aos espetáculos quando os mesmos passarem pela sua cidade.

 

SOBRE A CIA:

 

A Cia do Palácio das Artes foi fundada em 1971. Desde então, montou vários espetáculos que obteve sucesso de público e critica, tais como: Coreografia de Cordel, Sonho de Uma Noite de Verão (Fragmentos Amorosos), dirigido por Gabriel Villela (coreografia de Cristina Machado), Poderia ser Rosa (coreografado por Henrique Rodovalho) e Entre o Céu e as Serras ( por Luis Mendonça e Cristina Machado).

Vale ressaltar que o nome usado pela Cia era Cia de Dança de Minas Gerais e foi mudado para Cia de Dança Palácio das Artes em 2004.

No http://www.palaciodasartes.com.br/danca_hotsites.asp?sec_menu=3,1,0&grupo=danca tem link para o site de Transtorna, Coreografia de Cordel, Poderia Ser Rosa e Sonho de uma Noite de Verão - Fragmentos Amorosos.

 

 

Nanda Rovere
E-mail: nanda@del.art.br