Uma cama,
uma mesa e mais alguns objetos...
Luz
focada na atriz, transmitindo penumbra. O público senta-se
em cadeiras no palco ao redor das atrizes. Irmã Mariana (Débora
Aoni) já está em cena.
Logo em seguida,
entra Cecília (Carolina Mesquita), preocupada com o desespero
e atos da colega de clausura. A partir desse momento, elas estabelecem
um diálogo, tenso, intenso.
A situação
da mulher, de inferioridade, os seus desejos e o triste destino de
duas moças, que entraram para o convento como forma de se redimirem
de suas culpas, são tratados com competência.
O texto, primoroso,
de Ruy Jobim Neto, é fruto de extensa pesquisa do autor sobre
o Brasil Colônia (Salvador do final do século XVII),
quando o ciclo da cana-de-açúcar está chegando
ao fim.
Mariana, às
portas da loucura, conta a Cecília as suas experiências
sexuais, o cotidiano no engenho de cana-de-açúcar e
o conflito com o pai, que não admitia o modo de ser da filha,
a sua estadia num quilombo e como chegou ao convento. Confessa à
irmã o seu relacionamento sexual e amoroso com um poeta-advogado,
que se encontra preso e ameaçado de degredo para a África.
Essa revelação, em confissão, é um pedido
de ajuda de Mariana, que não suporta a prisão do seu
amor e quer fazer alguma coisa para tirá-lo de lá.
Um dos momentos
de maior tensão é quando irmã Cecília
se sente atraída por Mariana. Um jogo de sedução
que terá substancial importância no decorrer da encenação...
O figurino é
sóbrio, evidenciando o ambiente inóspito. A trilha original,
assinada por Gerson Grünblatt, merece elogios. Mistura corais,
órgãos de igreja, violão, solos a capella e lundus.
Do Claustro foi
escrito para Débora Aoni e Carolina Mesquita. Duas atrizes
de muito talento, pois as cenas necessitam de entrega total aos personagens
e elas conseguem conquistar o público. Mariana/Débora
tem uma respiração nervosa e muita movimentação
corporal. Cecília/Carolina já é mais contida,
reprimida.
Do Claustro é
pesado, simbólico, toca fundo nas relações humanas
e na hipocrisia da Igreja. Cada frase, cada palavra, é recebida
pelo público como uma punhalada nos seus preconceitos...
Depois de temporada
em São Paulo e no Festival de Curitiba, a peça está
em cartaz no Rio de Janeiro, mas certamente voltará a São
Paulo.
Palavras
do autor, Ruy Jobim Neto: 'A peça retrata o lado escondido
de uma época, com mulheres de seu tempo, seus desejos, seus
medos e culpas. Procura mostrar o poder estabelecido dominando o povo,
a fusão do sacro e o profano, uma civilização
em franca decadência. Nada mais atual, portanto, para um Brasil
onde a religião e o sexo ainda são tratados de forma
tão arcaica e complexa', afirma o autor Ruy Jobim Neto, que
há mais de vinte anos pesquisa o universo do século
XVII no Brasil. A peça foi escrita em julho de 2007 especialmente
para as atrizes¨.
'Com
minhas pesquisas e a participação das atrizes, criei
as personagens enclausuradas e apaixonadas no interior do Convento
de Santa Clara do Desterro, o primeiro monastério feminino
do Brasil, fundado em 1677, por cinco madres superioras que vieram
do Convento de Santa Clara de Évora, em Portugal. É
uma peça sobre nossas origens, que investiga os caminhos da
mulher brasileira ao longo de nossa História, e que demonstra
uma atualidade desconcertante', completa.
Cia. Mestremundo
de Histórias
DÉBORA AONI
e
CAROLINA MESQUITA
'DO
CLAUSTRO'
de Ruy Jobim Neto
Direção: EDUARDO SOFIATI
Ficha Técnica:
Música original: GERSON GRÜNBLATT
Preparação de Elenco: FERNANDA LEVY
Consultoria de Época: LAÍS VIENA DE SOUZA
Cenografia: EDUARDO SOFIATI
Objetos de Cena: RUY JOBIM NETO
Figurinos: CIA. MESTREMUNDO DE HISTÓRIAS
Costureira: RAY LOPES
Cenotécnica: NILTON (da EAD) & REGIS SANTOS
Projeto Gráfico: CIA. MESTREMUNDO DE HISTÓRIAS
Assessoria de Imprensa: AMÁLIA PEREIRA
Para conhecer
mais detalhadamente a equipe e a criação da peça:
http://mestremundo.blogspot.com
Serviço:
SEDE
DA CIA. DE TEATRO CONTEMPORÂNEO (teatro II)*
Onde: Rua Conde de Irajá, 253 - Botafogo,
Rio de Janeiro
tel. para reservas: (21) 2537-5204
Quando: de 5 a 27 de abril
sábados (21h), domingos (20h)
Classificação
indicativa: 16 ANOS
(ind.: nudez, insinuação de sexo, temática sobre
Igreja e sexualidade)
DRAMA.