A Javanesa

Por Nanda Rovere

A Javanesa, de Alcides Nogueira, fala do amor com maestria.

Alcides Nogueira é daqueles dramaturgos que tocam no fundo da alma. A Javanesa, de sua autoria, que está em cartaz no Teatro Jaraguá, não é diferente.

O monólogo, escrito especialmente para o ator Leopoldo Pacheco, apresenta o intenso relacionamento amoroso de um casal que se conhece aos 25 anos, se separa e após 30 anos se reencontra. Não há nomes; ele a chama de Javanesa, por não saber seu nome, e por ela sempre cantarolar a nostálgica canção de Serge Gainsbourg.

De modo não linear, cada personagem vai contando a sua versão da história, expondo os seus sentimentos.

O medo de se entregar fervorosamente à paixão fez com que o casal se separasse. Não compartilharam um com o outro as dúvidas, as inseguranças e acabaram por desperdiçar uma relação... O reencontro é sofrido, bonito. Trinta anos não foi tempo suficiente para apagar as boas - e más - lembranças...as noites de amor e carinho, a estranha sombrinha amarela da Javanesa, a sua predileção pela flor chamada saudade, as angústias, as brigas e os ressentimentos...

Citar momentos marcantes é tirar do espectador o prazer da visualização das cenas, cada uma com uma delicadeza ímpar.

Alcides consegue criar magias dramatúrgicas inesquecíveis. Numa entrevista concedida a mim há alguns anos, declarou sua extrema paixão pela música; música que guia as suas criações (Pólvora e Poesia, por exemplo, tinha as composições de Chopin como pano de fundo) e que foi a inspiração para a criação desse texto que transborda sensibilidade. Apresenta uma linguagem apurada, mas que, ao mesmo tempo, pode ser compreendida por qualquer pessoa.

Léo Pacheco está sublime no palco. Faz os quatro personagens (o homem e a mulher, nos dois períodos da vida, com uma entrega muito bonita). Sua performance da mulher é sutil e cativante.

O teatro tem me proporcionado diversão e reflexões interessantes sobre a vida e o amor. Saí da sessão da peça com a cabeça fervilhando e com a emoção à flor da pele. Saí com a certeza de que o teatro é o responsável pelos melhores momentos de minha vida, que me fez uma pessoa melhor, mais sensível.

Márcio Aurélio, que já dirigiu com competência inúmeros textos de Alcides, mais uma vez conseguiu captar toda a poesia dos textos do autor.

Cenário, trilha sonora, desenho de luz e figurinos são ao mesmo tempo simples e sofisticados.

O cenário é simples e coloca em cena uma cadeira de palha, um tapete caucasiano, um guarda-chuva e um fundo de papel, que lembra uma luminária japonesa. Objetos citados no texto e que de alguma maneira tiveram participação marcante na história.

O figurino é sóbrio, de cor clara e tecido leve; tem como destaque um cachecol que diferencia o personagem masculino do feminino e a passagem dos anos.

A luz direciona a mudança de tempo e está em harmonia com os demais aparatos cênicos.

Várias versões e trechos (vinhetas) de La Javanese, além da Sinfonia n1 de Bério, embalam as cenas e intensificam as emoções transmitidas pelos personagens.

O projeto está sendo planejado há algum tempo, com a realização de uma produção minuciosa.

Quem só conhece o Leopoldo e o Alcides pelos seus trabalhos na TV não pode deixar de ir ao teatro, lugar onde esses artistas cativam pelo talento.

Leopoldo também está em Amigas Pero no Mucho, onde também faz uma mulher e vivencia um universo completamente diferenciado da ¨Javanesa¨. A Javanesa é avassaladora, estonteante; Amigas é uma deliciosa comédia sobre o universo feminino.

Para saber mais sobre a trajetória de Alcides Nogueira (que comemora 30 anos de palco ) e sobre Leopoldo Pacheco: www.nandaroverecultural.blogger.com.br

 

Serviço:

A JAVANESA

Direção, Cenário e Iluminação - Marcio Aurelio.

Figurino - Leda Senise.

Trilha Sonora e direção musical - Fernando Esteves.

Direção de Produção - Bel Gomes.

Texto: Alcides Nogueira.

Com: Leopoldo Pacheco.

Teatro Jaraguá: R.Martins Fontes, 71. Centro
Tel. 11 3255-4380).

Sex: 21h30. Sáb: 21h. Dom: 19h.

Até 29/7. Ingresso promocional: R$ 10.

 

Nanda Rovere
E-mail: nanda@del.art.br