Julio Carrara

Vamos acabar com o "teatrinho"
Me dá um Convite?
O teatro dá alegria a todos, exceto à quem o faz 
O limite da mediocridade alcançada
Trapézio sem Rede 

O Limite da Mediocridade Alcançada

Julio Carrara

 

Eu gostaria de saber o que acontece com determinados “atores”. O que querem afinal? Ser ator ou ser famoso? Ser ator é uma coisa e ser famoso é outra, completamente diferente.

É fácil ficar famoso. Olhem os mandamentos abaixo
1. Tenha um corpo sarado e um rostinho angelical.
2. Seja fútil.
3. Não precisa saber falar corretamente o português.
4. Ande por aí sem calcinha.
5. Tenha muita grana.
6. Se inscreva no “Big Brother“.
7. Se conseguir entrar naquela merda, pode ter certeza que ao sair de lá, você imediatamente pousará no Paparazzo, Playboy ou G Magazine, em fotos sensuais.
8. Posteriormente entrará num programa humorístico de péssima qualidade ou ganhará um papel de coadjuvante numa novela do horário nobre, mesmo sem ser capacitado para isso.
9. Pra que ser capacitado, se você pode ser namorada(o) de algum diretor conceituado? Pode ter certeza que ele irá te escalar pra sua próxima novela.
10. Se não conseguir nada disso, faça um filme pornô. Muitos artistas começaram assim.

Siga corretamente essas dicas que, mais cedo ou mais tarde, você será uma celebridade. Eu lhe garanto.Mas tome cuidado. Depois de um tempo, essas celebridades instantâneas entram em órbita, caem no esquecimento e nunca mais ouve-se falar nelas.

Agora, entrarei num assunto que realmente me interessa. Ser ator. Não existe dez mandamentos para ser um bom ator. Existe muito mais. É uma profissão extremamente complexa.

Antes de se desenvolver como ator, você tem que se desenvolver como ser humano. Como você vai interpretar, Hamlet ou Ofélia, se a sua alma é muito inferior à desses personagens? Se o seu ego é maior que a sua humildade e generosidade? Se você procura contato com a platéia apenas por egocentrismo e vaidade? Se ama VOCÊ no TEATRO e não o TEATRO em VOCÊ?

Tenho certeza que muitos artistas não sabem o que estão fazendo quando estão em cena, qual a sua função social, o que pretendem atingir. Esses infelizes saem de uma escolinha de teatro qualquer, onde atuaram em grandes clássicos da dramaturgia universal como “As Bruxas de Salém“, por exemplo. Fazem uma ou duas apresentações para os familiares e amigos, que acham tudo maravilhoso e após o término do curso, enchem a boca para dizer que são atores profissionais, só porque tem a porra do DRT nas mãos. Grande bosta. Já trabalhei com muitos amadores que eram muito mais profissionais do que com àqueles que tem a carteira assinada e sua profissão regulamentada.

Hoje, a nossa profissão virou piada. Qualquer um pode ter DRT. É só pagar. E aquele ator talentoso, que não tem como pagar a taxa pra SATED, tem que dar um trampo de garçom, pintar a cara de branco, colocar uma bola vermelha no nariz e subir no palco como se estivesse animando festinhas de crianças nos Projetos Escolas da vida, tratando o público infantil como debilóides (coisa que não são), para conseguir grana pra pagar suas contas e a taxa abusiva do Sindicato pra conseguir o tão desejado DRT.

O grau de analfabetismo é tanto, que certa vez, nos bastidores de um teatro onde seria apresentada “Lisístrata“, uma atriz, chegou no camarim, “desesperada” e disse para outras atrizes que o Aristófanes estava na platéia. Todas sacaram a brincadeira, exceto uma, que acreditou realmente.
- Nossa - disse ela - ele veio da Grécia pra cá?

E todas riram da garota, evidentemente. Bem, nem tudo estava perdido. Pelo menos ela sabia que Aristófanes era grego.

Falta informação, faltam profissionais realmente capacitados, faltam bons orientadores. A classe artística é muito desunida e individualista. Por isso a Cultura está essa merda. É preciso urgentemente fazer alguma coisa. Senão, o que será do Teatro daqui há 10 anos?
Têm pessoas que vomitam teorias mas agem pouco. São puros punheteiros recém-saídos de alguma escolinha, que em seus devaneios em bares ou botecos decadentes, sonham com um modelo do teatro ideal. Mas a única coisa que conseguem atingir é o limite da mediocridade alcançada. Só.

Por isso (há exceções, evidentemente), o teatro está tão frouxo. Ou temos espetáculos comerciais ou espetáculos que não passam de masturbação mental que não dizem absolutamente nada.

Para finalizar, transcrevo aqui uma frase do grande Goethe: “Eu queria que o palco fosse uma corda bamba onde nenhum incompetente ousasse caminhar.”

Julio Carrara

 

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